Estas são as diretrizes (resumidas - retiradas do material do Gaia Education):
Estudar a linguagem dos pássaros: Integrar linguagem e paisagem. Faça do estudo da flora, fauna, paisagem e clima uma prática diária. Saiba que espécies coabitam uma comunidade. Saiba quem está apenas de passagem e para onde estão indo. Aprenda com o ecossistema. Contar histórias sobre a vida selvagem e a paisagem como um meio de revitalizar o espírito e a psique, honrando a diversidade de espécies e expandindo a noção de comunidade. Restaurar a história natural na memória coletiva, para que deixe de ser um conhecimento em perigo de desaparecer.
Navegue no litoral obscuro, fractal: Compreenda que escalas diferentes podem produzir observações contrastantes e que pessoas diferentes terão várias interpretações. Evite a ilusão de estabilidade artificial. O conhecimento local requer uma ciência ancorada nos praticantes e uma sabedoria ancorada em lugares, quadros de pesquisadores biorregionais que catalogam a dinâmica da mudança ambiental local em suas comunidades de origem, que comparam notas com seus colegas, que traçam um curso estável no meio de uma mudança complexa e turbulenta.
Movimente-se para dentro e para fora: Registre os caminhos ecológicos / econômicos dos produtos básicos diários para entender completamente o impacto da globalização – seus benefícios e ameaças. Considere a matriz inteira da cidadania, todas as formas como a linguagem, as intenções, as motivações e as ações contribuem para a formação da sensibilidade biorregional.
Cultive um jardim de metáforas: Preste atenção às impressões sensoriais e seu significado simbólico mais amplo. Encontre as metáforas de ansiedade que ilustram a relação entre a psique e o planeta. Encontre as metáforas de integridade que permeiam a criação de qualidade da natureza - escuridão fecunda, ilha da tartaruga, coração atento, travessia de terreno aberto, o feitiço do sensual, a ilha interior - e contemple seu significado. Rastreie a ecologia da imaginação.
Honre a diversidade: Use diferentes maneiras de pensar e várias perspectivas culturais como uma lente conceitual. Compreenda o mundo através dos olhos, ouvidos e nariz de criaturas selvagens. Incorpore vários estilos de aprendizagem. Participe da diferença, explorando o que é comum e aprenda com o que permanece diferente.
Pratique o “selvagem”: Experimente a natureza selvagem e a psique selvagem. Considere a crua realidade da cadeia alimentar. Observe como a civilização nunca pode manter o selvagem completamente à distância. Deixe a natureza selvagem comunicar-se na brincadeira, no trabalho, no amor e na adoração. Pratique o selvagem para equilibrar o civilizado.
Alivie o sofrimento global: Tenha compaixão pelo vazio do desespero. Encontre as fendas na biorregião, os lugares de escuridão que requerem cura e atenção. Compreenda como os frutos da riqueza dependem frequentemente da exploração dos fracos. Veja o mundo como é, sem antolhos e transcendendo a negação.
Experimente a exuberância planetária: A vida explode em toda parte. É uma força indomável, sempre presente, misteriosa que permeia cada superfície da biosfera, cada poro em sua pele. Cada forma de vida é uma expressão única do poético e do sublime.
Tô pintando um quadro. Não com tinta. Com palavras.
Tem fala que atravessa a gente dum jeito que o coração não admite perder as palavras de vista.
Foi assim com as Diretrizes.
Li.
Reli.
Treli.
Pensei... bom... isso tem que parar.
Copiei.
À mão - pra demorar mais e sulcar na memória como água na areia. Não sem antes suspender frente aos olhos da mente, contemplar por todos os ângulos, tentando penetrar nas muitas bonitas formas de ver o mundo de quem escreveu.
Me deu bem uma ansiedade de me apropriar de toda essa beleza. Percebi primeiro no corpo, todo debruçado sobre a tela, com uma voracidade de fome.
Que tolice. Rsrsrs.
Respiro. Encosto no espaldar da cadeira. Devagarinho, essa palavra que vem crescendo dentro de mim há meses e moldando a minha atenção, vai tomando espaço de centro e ocupando tudo.
BIORREGIÃO.
Penso nas Diretrizes.
Penso no mundo.
Penso na predominância de certos tipos de voz, de certos tipos de linguagem, de certos tipo de olhar, em "padrões de excelência" que vão se estabelecendo e formatando tudo.
Penso no Brasil, nos brasileiros, nos latinos, nos "sub-desenvolvidos".
Na colonialidade viciada de certos relacionamentos.
Volto pros brasileiros - com essa auto-estima ainda tímida e cambaleante. Sem saber muito ainda o que a gente quer ser quando crescer (ou será que foi o meu olhar que viciou?).
Lembro da Clarice - "É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar, não só não exprimo o que sinto, como o que sinto se transforma lentamente no que digo".
Me deixo ficar. São curiosos os caminhos da mente-coração.
...
Já escureceu... Há quanto tempo estou sentada aqui?
Olho pela janela pra um restinho de luz e cor rosa-alaranjada no céu.
Falta pouco pra tudo ser tomado pela noite.
Me lembro de uma fala recente do Eduardo Gianetti em um evento da ABL. Procuro na net.
Como é bom ouvir isso...
Deixo aqui como um presente e um resgate de vocação para os brasileiros ancorarem no coração enquanto se apaixonam por suas biorregiões:
"Cada cultura incorpora um sonho de felicidade...
A forma de vida brasileira celebra os valores da amizade, do convívio e da amabilidade sem cálculo. A disponibilidade para desfrutar intensamente o momento. O prazer de sorrir e saudar a todos que com ela ou ele casualmente cruzam nas ruas. A eterna disposição de festejar e brincar por mais tênue que seja o pretexto.
O dom da vida como celebração imotivada".
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