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Entre os aprendizados de ontem e os desejos de amanhã, o hoje*

Atualizado: 7 de nov. de 2022




Seja me emocionando com a simplicidade de Mario, aprendiz de poeta de Pablo Neruda em o Carteiro e o Poeta, ou com a curiosidade intrometida e adorável de Amélie em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, ou me encantando com a amizade entre Toto e Alfredo ao som de Ennio Morricone em Cinema Paradiso, ou sofrendo com a separação de um garoto e seu amigo ET depois de voarem de bicicleta em frente à maior lua que o cinema já viu.


Seja me perguntando ainda, de vez em quando, se teria me arrependido de tomar a pílula vermelha em Matrix, ou imaginando se ainda é possível ter a conexão com a natureza e uns com os outros que vemos em Avatar, ou torcendo para que fosse realmente possível reescrever a história, como em Bastardos Inglórios.


Seja querendo montar um relicário com toda a minha árvore genealógica depois de assistir Coco - a vida é uma festa, ou acompanhando por mais de três décadas a luta arquetípica entre o bem e o mal em Guerra nas Estrelas, ou passando dias digerindo perguntas profundas provocadas por filmes como A Chegada e o último Coringa...


... a minha paixão pelo cinema só cresce.


Um filme é um haicai, não com três linhas, mas com uma hora e meia de muitas formas de arte alinhavadas em uma estória - ainda o melhor caminho de conexão humana.


A arte sempre esteve presente na minha vida. Além de viciada em cinema, eu sou uma leitora voraz, amo desenhar, quaaaase segui carreira na dança, exercito meu Lado B no artesanato e participo (à minha maneira) de um movimento chamado por um mundo feito à mão.


Ferreira Gullar disse que a arte existe porque a vida não basta. Eu amo essa frase. A arte redimensiona a vida, alarga a alma, amplia o horizonte, reeduca o olhar. Acorda o que estava adormecido, conecta a gente com o que está aí e abre a gente para o que pode vir a ser. A arte inquieta, questiona, acalma, emociona, nutre, cura, transforma. A arte nos ajuda a ser inteiros num mundo compartimentalizado. A arte nos conecta com o aqui, agora, onde podemos começar a alinhavar outros futuros possíveis. Outro gênio brasileiro - Guimarães Rosa - disse - Viver é plural. Esse é o convite da arte. E, com esse convite, ela torna as fronteiras mais permeáveis e cria pontes. Não consigo imaginar um espaço com maior necessidade de arte que a vida organizacional. Me vêm à mente pessoas afogadas na burocracia, na busca insana por produtividade, num fazer desprovido de reflexão. A arte nos ajuda a olhar para dentro e para o lado num mundo que demanda o tempo todo o olhar para fora e para frente. A arte nos ensina a ser humanos.


Joseph Beuys foi um artista alemão de expressão múltipla que aboliu as fronteiras entra a vida e a arte. Ele acreditava que todo ser humano é um artista na medida em que usa sua capacidade criativa para moldar os contextos sociais em que vive. Ele chamava isso de Escultura Social. Com uma frase - todo mundo é artista - ele focava numa visão ampliada da arte como toda e qualquer ação humana intencional e consciente na direção de moldar, curar, re-significar a cultura e a sociedade gerando novas realidades, convidando a todos a uma vida de maior autoria.


Este texto é um convite a você que me lê, para criar espaços abertos à arte no seu trabalho, mas também para acrescentar arte na sua forma de fazer. A arte é uma forma de ver e todo fazer pode ser artístico.


Onde nasce o seu fazer?


E um fazer artístico pode ajudar a criar organizações (e sociedades) que respiram e seres humanos mais inteiros que se tornam cada vez mais conscientes na prática de um fazer reflexivo e da arte de conviver. Experimente!

* esta frase é do coletivo Revolução Artesanal

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